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março 19, 2012

A Guerra do Contestado , Coronelismo e Messianismo , Cangaço e a Reforma Urbana na República-3º ano

A Guerra do Contestado

Introdução
A região denominada "Contestado" abrangia cerca de 40.000 Km2 entre os atuais estados de Santa Catarina e Paraná, disputada por ambos, uma vez que até o início deste século a fronteira não havia sido demarcada. As cidades desta região foram palco de um dos mais importantes movimentos sociais do país.

A formação da Região

A região do interior de Santa Catarina e Paraná desenvolveu-se muito lentamente a partir do século XVIII, como rota de tropeiros que partiam do Rio Grande do Sul em direção à São Paulo.
No século XIX algumas poucas cidades haviam se desenvolvido, principalmente por grupos provenientes do Rio Grande, após a Guerra dos Farrapos, dando origem a uma sociedade baseada no latifúndio, no apadrinhamento e na violência. Após a Proclamação da República, com a maior autonomia dos estados, desenvolveu-se o coronelismo, cada cidade possuía seu chefe local, grande proprietário, que utilizava-se de jagunços e agregados para manter e ampliar seus "currais eleitorais", influenciando a vida política estadual. Havia ainda as disputas entre os coronéis, envolvendo as disputas por terras ou pelo controle político no estado.
Em 1908 a empresa norte americana Brazil Railway Company recebeu do governo federal uma faixa de terra de 30Km de largura, cortando os 4 estados do sul do país, para a construção de uma ferrovia que ligaria o Rio Grande do Sul a São Paulo e ao mesmo tempo, a outra empresa coligada passaria a explorar e comercializar a madeira da região, com o direito de revender as terras desapropriadas ao longo da ferrovia.

A Situação Social

Enquanto os latifundiários e as empresas norte americanas passaram a controlar a economia local, formou-se uma camada composta por trabalhadores braçais, caracterizada pela extrema pobreza, agravada ainda mais com o final da construção da ferrovia em 1910, elevando o nível de desemprego e de marginalidade social. Essa camada prendia-se cada vez mais ao mandonismo dos coronéis e da rígida estrutura fundiária, que não alimentava nenhuma perspectiva de alteração da situação vigente. Esses elementos, somados a ignorância, determinaram o desenvolvimento de grande religiosidade, misticismo e messianismo.

O Messianismo na Região

Os movimentos messiânicos são aqueles que se apegam a um líder religioso ou espiritual, um messias, que passa a ser considerado "aquele que guia em direção à salvação". Os "líderes messiânicos" conquistam prestígio dando conselhos, ajudando necessitados e curando doentes, sem nenhuma pretensão material, identificando-se do ponto de vista sócio econômico com as camadas populares. Na região sul, a ação dos "monges" caracterizou o messianismo, sendo que o mais importante foi o monge João Maria, que teve importante presença no final do século passado, época da Revolução Federalista (1893-95).


O monge João Maria

Durante muitos anos apareceram e desapareceram diversos "monges", confundidos com o próprio João Maria. Em 1912 surgiu na cidade de Campos Novos, no interior de Santa Catarina, o monge José Maria. Aconselhando e curando doentes a fama do João Maria o monge cresceu, a ponto de receber a proteção de um dos mais importantes coronéis da região, Francisco de Almeida. Vivendo em terras do coronel, o monge recebia a visita de dezenas de pessoas diariamente, provenientes de diversas cidades do interior. Proteger o monge passou a ser sinal de prestígio político, por isso, a transferência de José Maria para a cidade de Taquaruçu, em terras do coronel Henrique de Almeida, agudizou as disputas políticas na região, levando seu adversário, o coronel Francisco de Albuquerque, a alertar as autoridades estaduais sobre o desenvolvimento de uma "comunidade de fanáticos" na região.
Durante sua estada em Taquaruçu, José Maria organizou uma comunidade denominada "Quadro Santo", liderada por um grupo chamado "Os Doze pares de França", numa alusão à cavalaria de Carlos Magno na Idade Média, e posteriormente fundou a "Monarquia Celestial".





Caboclos armados

O Confronto (1912-16) - Ao iniciar a Segunda década do século, o país era governado pelo Marechal Hermes da Fonseca, responsável pela "Política das Salvações", caracterizada pelas intervenções político-militares em diversos estados do país, pretendendo eliminar seus adversários políticos. Além da postura autoritária e repressiva do Estado, encontramos outros elementos contrários ao messianismo, como os interesses locais dos coronéis e a postura da Igreja Católica no sentido de combater os líderes "fanáticos".

O primeiro conflito armado ocorreu na região de Irani, ao sul de Palmas, quando foi morto José Maria, apesar de as tropas estaduais terem sido derrotadas pelos caboclos. Os seguidores do monge, incluindo alguns fazendeiros reorganizaram o "Quadro Santo" e a Monarquia Celestial; acreditavam que o líder ressuscitaria e o misticismo expandiu-se com grande rapidez. Os caboclos condenavam a república, associando-a ao poder dos coronéis e ao poder da Brazil Railway.


Grupo de soldados federais

No final de 1913 um novo ataque foi realizado, contando com tropas federais e estaduais que, derrotadas, deixaram para trás armas e munição. Em fevereiro do ano seguinte, mais de 700 soldados atacaram o arraial de Taquaruçu, matando dezenas de pessoas. De março a maio outras expedições foram realizadas, porém sem sucesso.
A organização das Irmandades continuou a se desenvolver e os sertanejos passaram a Ter uma atitude mais ofensiva. Sua principal líder era uma jovem de 15 anos, Maria Rosa, que dizia receber ordens de José Maria. Em 1° de setembro foi lançado o Manifesto Monarquista e a partir de então iniciou-se a "Guerra Santa", caracterizada por saques e invasões de propriedades e por um discurso que vinculava pobreza e exploração à República.
A partir de dezembro de 1914 iniciou-se o ataque final, comandado pelo General Setembrino de Carvalho, mandado do Rio de Janeiro a frente das tropas federais, ampliada por soldados do Paraná e de Santa Catarina. O cerco à região de Santa Maria determinou grande mortalidade causada pela fome e pela epidemia de tifo, forçando parte dos sertanejos a renderem-se, sendo que os redutos "monarquistas" foram sucessivamente arrasados.

O último líder do Contestado , Deodato Manuel Ramos foi preso e condenado a 30 anos de prisão, tendo morrido em uma tentativa de fuga.

As fotos foram retiradas do livro "O CONTESTADO" de Eduardo José Afonso, Editora Ática, Coleção Guerras e Revoluções Brasileiras...Depois de 4 anos de perseguições e de grande mortalidade, o movimento da região do Contestado foi desfeito, a fronteira entre os estados foi demarcada e consolidou-se o poder dos latifundiários no interior.



Coronelismo e Messianismo

INTRODUÇÃO
Em 1934 morria em Juazeiro do Norte um "messias", também perseguido pela Igreja Católica, porém, ao contrário de Antônio Conselheiro, o Padre Cícero Romão Batista era um aliado dos coronéis do Vale do Cariri, que a partir de 1912 lutaram contra a política de intervenções do governo federal e derrubaram o governador Franco Rabelo.

Padre Cícero

O MESSIANISMO

Considera-se como movimento messiânico, aquele que é comandado por um líder espiritual, um "messias", que a partir de suas pregações religiosas passa a arregimentar um grande número de fiéis, numa nova forma de organização popular, que foge as regras tradicionais e por isso é vista como uma ameaça a ordem constituída.
Esses movimentos tiveram importância em diversas regiões do país; no interiro da Bahia, liderado pelo Conselheiro, em Juazeiro do Ceará, liderado pelo Padre Cícero, no interior de Santa Catarina e Paraná, liderado pelo beato João Maria e novamente no Ceará, sob comando do beato José Lourenço; somente foi possível devido a algumas condições objetivas como a concentração fundiária, a miséria dos camponeses e a prática do coronelismo, e por condições subjetivas como a forte religiosidade popular e a ignorância. Os grandes grupos sociais que acreditaram nos messias e os seguiram, procuravam satisfazer suas necessidades espirituais e ao mesmo tempo materiais

O CONFLITO NO CEARÁ

A Guerra que tomou conta do Ceará entre dezembro de 1913 e março do ano seguinte refletiu a situação da política interna do país, caracterizada pela disputa das oligarquias pelo poder. A vida política brasileira era marcada pelo predomínio de poucas famílias no comando dos estados; as oligarquias utilizavam-se da prática do coronelismo para manter o poder político e econômico.

No início de 1912, a "Política de Salvações" do presidente Hermes da Fonseca atingiu o Ceará. A prática intervencionista acompanhada de um discurso moralizador serviu para derrubar a governador Nogueira Acciolly, representante das oligarquias tradicionais do estado, em especial da região do Cariri, no poder a quase 25 anos.
Em abril do mesmo ano, foi eleito o coronel Franco Rabelo como novo governador do Ceará, representando os grupos intervencionistas e os interesses dos comerciantes. Rabelo procurou diminuir a interferência do governo federal no estado e demitiu o prefeito de Juazeiro do Norte, o Padre Cícero.

Floro Bartolomeu e Padre Cícero



O conflito envolveu, de um lado, o novo governador eleito, Franco Rabelo e as tropas legalistas, e de outro as tropas de jagunços comandadas por Floro Bartolomeu, apoiadas pelo padre Cícero e pelos coronéis da região do Cariri, contando ainda com o apoio do senador Pinheiro Machado (RS), desde a capital.

O movimento armado iniciou-se em 9 de dezembro de 1913, quando os jagunços invadiram o quartel da força pública e tomaram as armas. Nos dias que se seguiram à população da cidade organizou-se e armou-se, construindo uma grande vala ao redor da cidade, como forma de evitar uma possível invasão.

A reação do governo federal demorou alguns dias, com o deslocamento de tropas da capital, que se somariam aos soldados legalistas no Crato. Apesar de estarem em maior número e melhor armados, não conheciam a região e nem as posições dos jagunços e por isso a primeira investida em direção a Juazeiro foi um grande fracasso, responsável por abater os ânimos dos soldados.

Os reforços demoraram a chega e as condições do tempo dificultaram as ações para um segundo ataque, realizado somente em 22 de janeiro e que não teve melhor sorte do que o anterior. Com novo fracasso, parte das tropas se retirou da região, possibilitando que os jagunços e remeiros invadissem e saqueassem as cidades da região, a começar pelo Crato, completamente desguarnecida. Os saques tinham por objetivo obter armas e alimentos e foram caracterizados por grande violência.

A última investida legalista ocorreu em fevereiro sob o comando de José da Penha, que acabou morto em combate.


Tropas de jagunços comandadas por Floro Bartolomeu

A partir de então, Floro Bartolomeu começa a organizar uma grande tropa de jagunços com o objetivo de ocupar a capital Fortaleza. Durante os primeiros dias de março, os jagunços ocuparam diversas cidades e as estradas do interior e se aproximavam da capital, forçando Franco Rabelo à renúncia no dia 14 de março.

Desse maneira terminava a Política das Salvações e a família Acciolly retomava o poder. Floro Bartolomeu foi eleito deputado estadual e posteriormente deputado federal. A influência política do Padre Cícero manteve-se forte até o final da República Velha.



Caçando ratos Revolta da Vacina

A Prefeitura de Nova Iguaçu (RJ) adotou um programa peculiar para combater a proliferação dos ratos na cidade: decidiu pagar a população para caçar os roedores. R$ 5,00 o quilo. Na História do Brasil, não é uma novidade.
No governo Campos Salles (1898 1902) foi criado o Instituto de Manguinhos, com a função de fabricar vacinas contra a peste bubônica. Para dirigi-lo, a prefeitura da capital federal oficiou ao Instituto Pasteur, de Paris, solicitando a indicação de um especialista. Esperava-se naturalmente um francês, mas o célebre Emile Roux, diretor do Pasteur, respondeu indicando o nome de um "brilhante discípulo seu": Oswaldo Gonçalves Cruz, paulista de São Luís do Paraitinga. Mesmo não tendo alcançado os 30 anos e completamente desconhecido no Brasil, Oswaldo Cruz já granjeara uma sólida reputação científica. Dirigiu Manguinhos até 1902, quando Rodrigues Alves foi busca-lo para sanear o Rio de janeiro. Aceitando o convite, o incansável Oswaldo Cruz prometeu erradicar a febre amarela em um período de três anos.


                                                                                                              Oswaldo Cruz

Mas primeiro atacou outro ponto: a peste. Para combate-la, criou um esquadrão de cinqüenta homens devidamente vacinados, que percorriam armazéns, becos, cortiços e hospedarias, espalhando raticida e mandando remover o lixo. Para completar criou um novo cargo, o de comprador de ratos. Este funcionário percorria as ruas da cidade, do centro e dos subúrbios, pagando 300 réis por rato apanhado pela população. Assim a curto prazo desapareceram os ratos e as epidemias.
Na verdade, a eliminação dos ratos e da peste, insere-se num contexto de transformações que envolveram a capital do Brasil durante o início do século XX.
Veja essa descrição sobre o Rio de Janeiro:
"Em 1900, a cidade ainda guarda o cunho desolador dos velhos tempos do rei, dos vice-reis e da; governadores", com ruas estreitas, vielas sujíssimas, becos onde se avoluma o lixo. O novo regime não teve ainda tempo para modernizar o Rio. Mesmo as artérias principais (Ouvidor, Ourives, Uruguaiana. Gonçalves Dias, 1.° de Março) são muita pouco espaçosas. E as outras ruas, mais distantes do centro, como as que cercam o largo da Misericórdia, não passam de vielas curvas e malcheirosas.
Nas praças mais amplas, quase não existem árvores, permitindo que o sol torne abrasador o calçamento de paralelepípedos e os passeios de lajes altas. Pavimento e calçada apresentam-se esburacados.
Dentro das sobrados centenários, remanescentes ou cópias dos tempos coloniais, as senzalas do rés-do-chão se transformam em bares, lojas e oficinas. Sem esgoto e sem janelas nos quartos, os outros andares dos sobrados do centro da cidade são um "dédalo de corredores e alcovas". (Luiz Edmundo - jornalista)

"Por ruas de muito movimento, que ligam bairros, esticando-se para as Laranjeiras ou São Cristóvão, um par de trilhos cruza o calçamento. São os bondinhos. Alguns são elétricos, que desde 1892 fazem a linha entre o Flamengo e a Carioca: a imprensa afirma: os "nossos elétricos, que, sem o menor favor, são os melhores do mundo..." Mas a maioria dos veículos, chacoalhando ferragens, velhos e incômodos, ainda é puxada pelo tradicional par de burrinhos... Afora os bondes, o tráfego da cidade constitui-se de raros caleches e charretes, e mais frequentes carroças puxadas por um ou dois cavalos. Mais comuns ainda são os carros puxados por braços humanos. As ruas estão cheias de vendedores; alguns puxam pela calçada carroças, com mercadorias: são os "burros-sem-rabo". Nas carroças, no lombo dos animais, nas costas ou nos braços, homens e mulheres, antigos escravos, imigrante; portugueses, alemães, turcos vão trazendo suas mercadorias. Passa o leiteiro conduzindo atrás de si uma vaca tuberculosa e um bezerro faminto. e o vendedor de aves, as galinhas presas em cestos atados a um burro: cabo de vassoura às costas para equilibrar a carga, vêm o cesteiro, o ceboleiro. o papeleiro, o verdureiro; um oferece mocotó, o outro doces; um negro traz carvão, ou sorvete; as mulheres vendem doces ou miudezas. A cidade é uma imensa feira."

O Rio de Janeiro no início do século XX

Francisco de Paula Rodrigues Alves, antigo conselheiro do Império e poderoso cafeicultor paulista, foi eleito presidente a assumiu em 1902. Seu período de governo ficaria conhecido como o "Quadriênio Progressista". Se por um lado existe a influência da noção de progresso oriunda do positivismo, por outro, mostra a preocupação dos governantes em abrir as portas do país para os investimentos estrangeiros, principalmente em setores financeiros e de serviços, que poderiam, direta ou indiretamente, beneficiar a produção e exportação de café. No discurso de posse, Rodrigues Alves destacou o "amparo a produção, estímulo à imigração e ocupação dos solos férteis, incremento dos transportes e proteção à entrada de capitais (...) aos interesses da imigração, dos quais depende em máxima parte o nosso desenvolvimento econômico, prende-se a necessidade de saneamento desta capital, trabalho sem dúvida difícil porque se filia a um conjunto de providências, a maior parte das quais de execução dispendiosa e demorada."

 O novo presidente assumiu em novembro de 1902 e contou com o fato de as finanças estarem relativamente equilibradas (graças a política de "saneamento financeiro" adotada por Campos Salles). Desde dezembro preocupou-se com o saneamento do Rio de Janeiro. Em janeiro de 1903 Pereira Passos foi nomeado como prefeito do Rio de Janeiro, e em março era a vez de Oswaldo Cruz assumir a Saúde Pública.

O cangaço

A prática do cangaço marcou um interessante momento da História do Brasil. Grupos de homens armados vagueavam pelos sertões, principalmente do Nordeste, buscando meios de sobrevivência, e o enfrentamento dos poderosos com o uso de suas armas e de sua coragem. Porém, seria somente dessa maneira que poderíamos compreender a prática do cangaço?
O próprio termo “cangaceiro”, em suas origens, faz referência ao termo “canga”, peça de madeira usualmente colocada nos muares e animas de transporte. Assim, a palavra cangaceiro, originalmente, faz uma alusão aos utensílios que os cangaceiros carregavam em seu corpo. Além disso, essa idéia heróica sobre os cangaceiros é equivocada. Os primeiros cangaceiros de que se tem relato eram, de fato, “prestadores de serviço” aos chefes políticos locais. Perseguiam e matavam os inimigos políticos dos coronéis de uma região.
Somente nos primeiros anos da República Oligárquica é que os primeiros grupos independentes de cangaceiros surgiram. Através de práticas criminosas esses grupos constituíram um grupo social à margem das estruturas de poder e das relações sociais vigentes durante o tempo das oligarquias. De acordo com seus interesses, os cangaceiros estabeleciam alianças com aqueles que oferecessem vantagens econômicas ou proteção às suas atividades.
Dessa maneira, não poderíamos dizer que o cangaço foi um movimento essencialmente comprometido com uma determinada classe social. Um dos primeiros cangaceiros que se tem registro é Antônio Silvino. Buscando vingar a morte do pai, ele formou um bando que lutava contra a polícia, promovia assaltos e armava “tocaias” contra autoridades governamentais. Anos mais tarde, Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, formou um dos maiores e mais duradouros grupos de cangaço existentes na região Nordeste.
Sua família, de origem pernambucana, já se envolvia com a prática do cangaço. Fazendo parte, inicialmente, do bando de Sinhô Pereira, Lampião aprimorou sua habilidade em matar inimigos e realizar assaltos. Seu apelido foi criado devido a sua rapidez no gatilho e a luz que saia do cano de sua arma. Em 1922, ele passou a liderar o grupo de Sinhô Pereira.
Vários documentos demonstram as formas de ação do grupo de Lampião. Em algumas cartas de próprio punho, Lampião exigia o pagamento de quantias em dinheiro em troca da não-invasão às cidades. Estendendo sua ação e número de integrantes, o bando de Lampião chegou a atuar contra a Coluna Prestes, em 1926. Só no ano de 1938 que Lampião foi subjugado pelas forças militares do Estado. Os principais líderes de seu bando foram decapitados e tiveram as cabeças expostas em diferentes cidades nordestinas.
A decadência do cangaço tem grande ligação com o estabelecimento do Estado Novo. A criação de órgãos repressores mais atuantes e a desarticulação da influência exercida pelos grupos oligárquicos remanescentes podem ser apontadas como as possíveis razões para o fim desse movimento. Por fim devemos ver no cangaço, a crise provocada pelas relações excludentes que figuraram a construção histórica do próprio Brasil.

Cangaço

Banditismo no sertão nordestino

Corisco e Dadá, sua mulher

Entre os séculos 19 e meados do 20, um tipo específico de banditismo se desenvolveu no sertão nordestino: o cangaço.os cangaceiros - bandos de malfeitores, ladrões, assassinos, bem armados, conhecedores da região - saqueavam fazendas, povoados e cidades, impunemente, ou, pior, impondo sua própria lei à região em que atuavam.

Para isso, contavam com o isolamento do sertão, com o tradicional descaso e a incompetência das autoridades constituídas, bem como com a conivência ou proteção de vários chefes políticos locais, os grandes proprietários rurais, conhecidos como "coronéis".

História do cangaço

O cangaceiro - um deles, em especial, Lampião - tornou-se personagem do imaginário nacional, ora caracterizado como uma espécie de Robin Hood, que roubava dos ricos para dar aos pobres, ora caracterizado como uma figura pré-revolucionária, que questionava e subvertia a ordem social de sua época e região.

Nesse sentido - heróico/mitológico - o cangaço é precursor do banditismo que ocorre atualmente nos morros do Rio de Janeiro ou na periferia de São Paulo, onde chefes de quadrilhas também são considerados muitas vezes benfeitores das comunidades carentes.

História do cangaço

O cangaço existiu a partir do século 19, mas atingiu o auge entre o início do século 20, marcado pela ação do bando de Antonio Silvino, e a década de 1940, quando foi morto o cangaceiro Corisco, no interior da Bahia. Entre a atuação dos dois, destacou-se aquele que tornou-se a personificação do cangaço, por ser o líder de uma quadrilha que atuou por quase duas décadas em diversos estados do Nordeste: Virgulino Ferreira da Silva, o célebre Lampião.

Contribuíram para sua fama a violência e a ousadia, que o levaram a empreender ataques até a cidades relativamente grandes do sertão, como Mossoró (RN), em 13 de junho de 1927. Nesse caso, em especial, o ataque fracassou, pois a população local se entrincheirou na cidade e repeliu o ataque. O mesmo não aconteceu em Limoeiro do Norte (CE) ou Queimadas (BA), que o bando de Lampião tomou por alguns dias saqueando, matando indiscriminadamente, e impondo a sua vontade pelo tempo que ali permaneceu.

As volantes

O agravamento do problema do cangaço levou as polícias estaduais a criar forças especiais para combatê-lo, as chamadas "volantes", comandadas por policiais de carreira, mas formadas por "soldados" temporários e cujos métodos de atuação - em especial em relação à população pobre - não era muito diferente daqueles dos próprios cangaceiros. Quanto ao governo federal, seu descaso pelo cangaço foi sempre o mesmo manifestado pelo semi-árido de um modo geral.

De qualquer modo, em 1938, o governo de Alagoas se empenhou na captura de Lampião. Uma volante comandada por João Bezerra conseguiu cercá-lo na fazenda de Angicos, um refúgio no Estado de Sergipe. Depois de vinte minutos de tiroteio, cerca de 40 cangaceiros conseguiram escapar, mas onze foram mortos, entre eles o líder do bando e sua mulher, conhecida como Maria Bonita.

Para se ter uma ideia do caráter violento da sociedade em que isso aconteceu, vale mencionar que os onze mortos foram decapitados e suas cabeças, levadas para Salvador (BA), ficaram expostas no museu Nina Rodrigues até 1968 - quando foram finalmente sepultadas.

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